Coletivo Nacional de Saúde da Contraf-CUT se reuniu em São Paulo: ‘É preciso colocar a saúde dos trabalhadores no coração dos governos, como o direito à segurança alimentar’
O Coletivo Nacional de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) se reuniu na segunda (26) e terça-feira (27), na capital de São Paulo, para fazer um balanço sobre o cenário da saúde do trabalho no país e os desafios para a categoria bancária.
"Antigos problemas persistem e tomaram novas formas. Identificamos o aprofundamento da exploração, que impacta na saúde das bancárias e bancários", destacou Mauro Sales, secretário de Saúde da Contraf-CUT.
Os antigos problemas são decorrentes da pressão para que os funcionários alcancem metas, que resulta no aumento de competição e no adoecimento da categoria. A Consulta Nacional aos Bancários, realizada com cerca de 47 mil respondentes neste ano em todo o país, apontou que 67% convivem com preocupação constante com o trabalho; 60% cansaço e fadiga; 53% desmotivação e vontade de não ir trabalhar; e 47% com crises de ansiedade ou pânico.
A auditora fiscal do Ministério do Trabalho, Geovania Motroni, que participou do encontro, trouxe para o evento resultados da Ação Especial Setorial (AES), realizada pela entidade pública nos estabelecimentos bancários do estado do Rio de Janeiro.
"A AES realiza inspeções nos bancos e representa um modelo estratégico, com abordagem diferenciada e proativa, que utiliza o diálogo social numa atuação de forma coletiva para a prevenção de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, bem como para o saneamento de irregularidades trabalhistas, com o objetivo maior de promover o trabalho decente", explicou a auditora. Segundo ela, de 75 ações fiscais no estado carioca, foram gerados 293 autos de infração.
"Isso mostra que os bancos são contumazes desrespeitadores da legislação", observou Mauro Sales.
A coordenadora do Laboratório de Estudos sobre Saúde e Trabalho (ESTER) da Unicamp e médica especializada em saúde do trabalho, Marcia Cristina Bandini, pontuou durante o encontro que o cenário de transtornos mentais e suicídios relacionados ao trabalho seguem preocupantes. Ela também reforçou que a participação dos trabalhadores organizados é essencial para o andamento das pesquisas, uma vez que os resultados são fundamentais para a construção de medidas para promover o trabalho decente e saudável.
A doutora em Saúde Pública pela USP, Maria Maeno, ressaltou que “é preciso colocar a Saúde do Trabalho no coração dos governos federal, estaduais e municipais, como acontece com os temas direito à segurança alimentar e nutricional”. Tendo atuado como médica da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Maeno reconheceu que o debate sobre a saúde dos trabalhadores no setor público, especialmente sobre a necessidade de políticas específicas ao tema, ainda é incipiente no setor público.
Os representantes de bancários e bancárias de todo o país, no Coletivo Nacional de Saúde, identificaram problemas graves nos bancos contra a saúde dos trabalhadores.
"As metas abusivas continuam: as cobranças são intensas para os resultados serem alcançados, impactando ainda mais nossos colegas com adoecimento físico e psíquico. Dentro disso, o assédio moral, exercido pelos mecanismos de avaliação de desempenho e remuneração variável", explicou Mauro Salles.
O secretário de Saúde da Contraf-CUT destacou ainda que os serviços médicos dos bancos continuam sendo utilizados com o objetivo de se livrar dos trabalhadores fragilizados. "Além disso, os programas internos de prevenção não são efetivos, nem transparentes e a digitalização dos processos de trabalho acelerou os desafios para a categoria".
A conclusão do coletivo é que os bancos seguem descumprindo as normas de saúde e cláusulas sobre o tema na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT).
Os dois dias de encontro do Coletivo Nacional de Saúde resultaram em uma lista de diretrizes para as ações no próximo ano:
- Vigilância permanente nos ambientes de trabalho.
- Negociação permanente – Mesa de Saúde e Comissões de Organização dos Empregados (COEs) concomitante com mobilizações.
- Fiscalizar cumprimento CCT/ACT/Legislação/Previdência.
- Formação para ação: Estudar CCT/ACT; Normas Regulamentadoras; SUS.
- Estudos e pesquisas sobre impacto da gestão e da organização do trabalho na saúde dos bancários.
- Campanhas – Nova fase do “Menos metas, mais Saúde”.
- Dialogar com bancários sobre sua saúde e condições de trabalho, buscando elevar a consciência sobre a relação das políticas e práticas da gestão e o sofrimento/adoecimento.
- Ação junto às instituições responsáveis de promover saúde e fiscalizar os locais de trabalho (Ministério do Trabalho; Saúde; Previdência; Assistência social; Direitos Humanos; MPT; parlamento, etc.).
- Lutar para estipular: a) Metas coletivas alcançáveis; b) Sem alteração das regras durante o exercício de apuração; c) Metas de acordo com a realidade e porte de cada agência; d) Aumento da pontuação mínima em caso de fechamento da agência ou afastamentos por acidente, doença ou licenças; e) Sem cobrança de metas durante as férias; entre outras questões.
fonte:contraf-CUT
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